O Artesanato Monsenhor Airosa tem as suas origens nos finais do séc. XIX e é herdeiro da tecelagem do “Collegio da Regeneração”, instituição de assistência, em Braga.
Com efeito, é nesta casa fundada pelo Pe. João Pedro Ferreira Airosa que, para dar “instrução e trabalho” às suas acolhidas, bem como para promover a respectiva sustentação, o fundador, entre muitos outros trabalhos oficinais, inicia a laboração de uma tecelagem. Nesta fabricam-se “riscados, cotins, jutas, sarjas, etamine, pano família, aparelhos de cama, toalhas de meza e de mão, guardanapos simples e adamascados, pano de linho, pano kneipp, lenços, colchas da algodão, linho e seda… enchovais completos tanto para homem como para senhora e creança, e a variada alfaia religiosa – alvas, toalhas d`altar, cotas, sobrepelizes, casulas, etc.” (Torres, A. Pinheiro. Memória Histórica do Collegio de Regeneração. Braga, 1905).
Após um período de aprendizagem que o próprio Pe. Airosa efectuou em França, na Casa Jacquard, onde granjeou a admiração do meio industrial europeu da época, elabora ele próprio os desenhos que vão ser tecidos e que ainda hoje são património exclusivo do AMA – Artesanato Monsenhor Airosa. De acordo com o Director da Escola de Tecelagem de Berna, “O Padre Airosa é o homem que no seu país mais sabe e compreende o ensino da tecelagem.” (Manuel Araújo, “Indústrias de Braga”, 1923).
Conhecendo grande fulgor na passagem do Séc. XIX para o XX, chega a “empregar” 400 aprendizas que executam “… todos os trabalhos concernentes a cada uma das officinas, como o talhar, o desenho para bordados e tecidos, a armação dos tearese machinismos, a composição do esboço, a mise en carte ou tradução graphica da operação – crochetage, colletage, empointage, lissage, piquage e perçage dos cartões” (idem).
Premiada em exposições no país e no estrangeiro, é visitada e apreciada por reis e rainhas, presidentes da república, membros do governo, bispos, intelectuais, artistas, escritores, jornalistas, entre muito outros.
Por força da qualidade e do reconhecimento granjeados, foram-se espalhando pelas grandes casas senhoriais portuguesas e europeias, designadamente em França donde, do Vale do Loire, chegam notícias e fotos de peças que ainda decoram alguns “chateaux”.
Muitas e importantes foram as visitas que ao longo dos tempos personalidades ilustres fizeram à Instituição. De entre outras referem-se as efectuadas pelas Rainhas de Portugal D. Maria Pia e D. Amélia, pelo Presidente do Conselho José Luciano de Castro, pelo Ministro do Trabalho (já da República) Dr. Vasco Borges e pelos Presidentes da República, Generais Carmona e Ramalho Eanes.
Continuando os métodos de fabrico nos velhos teares Jacquard, que constituem um dos mais valiosos espólios de arqueologia industrial do país e utilizando os mesmos desenhos, com mais de 100 anos de existência, o AMA viu reconhecida pelo PPART a qualidade de artesanato de base erudita para as peças de têxtil lar aí produzidas.
Apesar deste reconhecimento e do assinalável valor arqueológico-industrial do equipamento e dos produtos que compõem o espólio desta atividade não foi possível, por um cúmulo extenso de razões manter a atividade desta "oficina". Foi encerrada a laboração em Agosto de 2012.
Envidam-se esforços e esperam-se apoios e mecenatos, oficiais e particulares, que permitam, ao menos, salvaguardar em condições adequadas este património e esta memória relevante, não apenas para o IMA mas também para a cidade de Braga, a região do norte e o próprio país.